Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 10: Capítulo 10

Página 111

Como uma música distante, aquelas palavras que ele escrevera há vários anos renasciam do passado. Desejava ficar só com ela. Quando os outros se fossem embora, quando os dois estivessem sós no quarto do hotel, então seria a felicidade. Poder-lhe-ia chamar docemente:

- Gretta!...

Talvez ela não ouvisse logo: estaria a despir-se. Então, qualquer coisa na sua voz havia de tocá-la. Voltar-se-ia e olharia para ele.

Na esquina da Rua Winetavern encontraram um trem. Ele ficou satisfeito por ver que o carro era barulhento, porque lhe poupou conversa. Gretta olhava pela janela e aparentava cansaço. Os outros disseram meia dúzia de palavras, apontando para qualquer construção da rua. O cavalo puxava-os através da manhã, e Gabriel sentiu-se novamente no trem com ela, galopando para apanharem o barco, galopando para a lua-de-mel.

Quando o trem atravessou a Ponte de O' Connel, Miss O' Callaghan exclamou:

- Dizem que nunca se pode atravessar a Ponte de O' Cormel, sem se ver um cavalo branco...

- Eu vejo um homem branco, desta vez - disse Gabriel.

- Onde? - perguntou Mr. Bartell d' Arcy.

Gabriel apontou para a estátua que tinha camadas de neve. Depois, acenou-lhe familiarmente, e exclamou com alegria:

- Boa noite, Dan!

Quando o trem parou em frente do hotel, Gabriel saltou para fora e, a despeito dos protestos de Mr. Bartell, pagou ao condutor. Deu ao homem, um shilling pelo serviço. O homem cumprimentou e disse:

- Um Novo Ano cheio de prosperidades para si meu senhor!...

- O mesmo para si - correspondeu Gabriel cordialmente.

Gretta encostou-se um pouco ao seu braço ao abandonar o trem e depois no passeio, enquanto dizia «boas-noites» aos outros. Encostou-se tão ao de leve, como se encostara umas horas antes, quando dançara com ele. Gabriel sentira-se então orgulhoso e feliz, feliz por ela lhe pertencer, orgulhoso da sua graça e porte. Mas agora, depois de tantas recordações, o primeiro contacto com o seu corpo musical, estranho e perfumado, fez-lhe sentir uma onda de desejo. Tinha-lhe apertado o braço em silêncio; e agora, que estavam em frente da porta do hotel, ele sentia que se haviam afastado das 'suas vidas e deveres, escapado da casa e dos amigos e fugido juntos com os corações cheios de felicidade para uma nova aventura.

Um velhote sonolento estava sentado numa grande cadeira no hall. Acendeu uma vela e subiu à frente deles a escada. Seguiram-no em silêncio.

<< Página Anterior

pág. 111 (Capítulo 10)

Página Seguinte >>

Capa do livro Gente de Dublin
Páginas: 117
Página atual: 111

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 9
Capítulo 3 30
Capítulo 4 36
Capítulo 5 52
Capítulo 6 58
Capítulo 7 63
Capítulo 8 69
Capítulo 9 78
Capítulo 10 86