Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 4: Capítulo 4

Página 40
Depois de três semanas, tinha achado a vida fastidiosa, e mais tarde, quando começara a achá-la insuportável, tornara-se mãe. A maternidade não lhe trouxera insuperáveis dificuldades e durante vinte e cinco anos mantivera sagazmente a casa. Os dois filhos mais velhos estavam arrumados. O primeiro trabalhava numa loja de fazendas, em Glasgow, e o outro era escrevente dum mercador de chá, em Belfast. Eram bons filhos, escreviam regularmente e, às vezes, mandavam dinheiro para casa. As outras crianças ainda andavam na escola.

No dia seguinte, Mr. Kernan escreveu uma carta para o escritório e ficou na cama. A mulher arranjou-lhe um bife e ralhou-lhe bastante. Aceitava as más disposições como se fossem produzidas pelo clima, tratava-o bem sempre que o via doente, e insistia para ele comer bem ao pequeno-almoço. Havia maridos piores. Desde que os rapazes cresceram, nunca tornara a ser violento, e sabia que ele era capaz de percorrer toda a Rua Thomas e voltar para trás, para lhe fazer um recado.

Duas noites depois, os amigos vieram vê-lo. A mulher levou-os ao quarto, que estava impregnado dum cheiro especial, e ofereceu-lhes cadeiras ao pé do lume. Mr. Kernan, que estivera durante o dia muito irritado com dores na língua, tornou-se mais amável. Sentou-se na cama, recostado nas almofadas. Pediu desculpa aos visitantes pela desordem que havia no quarto.

Mr. Kernan não sonhava que ia ser vítima de um plano que fora. discutido entre os seus amigos, Mr. Cunningharn, Mr. M’ Coy, Mr. Power e a sua mulher. A ideia fora de Mr. Power. Mr. Kernan era de família protestante, e convertera-se ao catolicismo quando casara; no entanto, havia já vinte anos que não entrava numa igreja.

Mr. Cunningham era o colega mais idoso de Mr. Power. A sua vida doméstica não decorria muito feliz. Simpatizavam imenso com ele, porque se sabia que casara com uma mulher de pouca apresentação e bastante alcoólica.

Todos respeitavam o pobre Martin Cunningham. Era um homem sensível, com certa influência e muito inteligente. O seu conhecimento da humanidade proviera de uma longa experiência de casos de polícia, temperados com filosofia geral. Estava sempre bem informado. Os amigos achavam-no parecido com Shakespeare.

Quando o plano fora apresentado a Mrs. Kernan, ela dissera:

- Entrego tudo nas suas mãos, Mr. Cunningham.

Depois de um quarto de século de vida de casada, já poucas ilusões lhe restavam.

<< Página Anterior

pág. 40 (Capítulo 4)

Página Seguinte >>

Capa do livro Gente de Dublin
Páginas: 117
Página atual: 40

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 9
Capítulo 3 30
Capítulo 4 36
Capítulo 5 52
Capítulo 6 58
Capítulo 7 63
Capítulo 8 69
Capítulo 9 78
Capítulo 10 86