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Capítulo 4: Capítulo 4

Página 41
A religião era um hábito, e suspeitava que um homem da idade do seu marido não mudaria muito antes da morte. Estava tentada a ver certa conveniência no desastre que o marido sofrera, e se não fosse parecer mal, teria dito às visitas que a língua de Mr. Kernan não teria nada a perder se fosse cortada. No entanto, Mr. Cunningham era um homem capaz, e a religião era a religião.

A combinação talvez fizesse bem; pelo menos, mal não podia causar. A suas crenças não eram extravagantes; acreditava no Sagrado Coração e aprovava os Sacramentos.

Os homens começaram a falar sobre o acidente. Mr. Cunningham disse que já uma vez ouvira um caso idêntico. Um homem de setenta anos cortara um pedaço da língua, enquanto sofria um ataque epiléptico, mas a língua unira-se novamente.

- Bem, mas eu não tenho setenta anos - disse o inválido.

- Deus nos livre - respondeu Mr. Cunningham.

- Agora não lhe dói? - perguntou Mr. M’ Coy.

Mr. M’ Coy havia sido um tenor de certa reputação. A mulher, que fora cantora, ainda ensinava crianças a tocar piano. A sua linha da vi da não tinha sido a distância mais curta entre dois pontos. Fora escriturário na Midland Railway, agente de publicidade no Irish Times e no Freeman's Journal, caixeiro-viajante duma firma de carvões, agente secreto, escriturário nos escritórios do Sub-Sherif, e recentemente tornara-se secretário do oficial de Justiça. O seu novo emprego tornava-o profissionalmente interessado no caso de Mr. Kernan.

- Dores? Nem por isso - respondeu Mr. Kernan - Mas é tão maçador! Sinto vontade de partir qualquer coisa.

- Isso é uma maçada - respondeu Mr. Cunningham firmemente.

- Não - disse Mr. Kernan. - Penso que me constipei no trem. Sinto qualquer coisa na garganta, pleura ou...

- Muco - acrescentou Mr. M’ Coy.

- Uma coisa maçadora que me vem à garganta.

- Bem, bem, isso é do tórax - disse Mr. M’ Coy.

Mr. Power sentenciou:

- Tudo fica bem quando acaba bem.

- Estou-te muito agradecido, meu velho - disse o inválido.

Mr. Power fez um leve gesto com a mão. - Aqueles dois tipos com quem eu estava...

- Quem eram eles?

- Um tipo ... não me lembro do seu nome. Um tipo pequeno, de cabelo ruivo... - E quem mais?..

- Harford.

- Hum - fez Cunningham.

Quando Mr. Cunningham fazia aquilo, todos ficavam silenciosos.

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Capa do livro Gente de Dublin
Páginas: 117
Página atual: 41

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 9
Capítulo 3 30
Capítulo 4 36
Capítulo 5 52
Capítulo 6 58
Capítulo 7 63
Capítulo 8 69
Capítulo 9 78
Capítulo 10 86