- É para isso que nós pagamos impostos? - perguntou. - Para alimentar e vestir esses ignorantes... porque nada são além disso.
Mr. Cunningham riu-se. Era oficial do Castelo só durante as horas de serviço.
- Como é que eles haviam de ser outra coisa, Tom?
Assumiu uma acentuação provinciana e disse num tom de comando:
- Sessenta e cinco, vai buscar as tuas couves!
Todos se riram. Mr. M’ Coy querendo, de qualquer modo, entrar na conversa, disse que nunca ouvira a história. Mr. Cunningham respondeu:
- Supõe-se, pelo que dizem, que tomam lugar no refeitório, onde reúnem aqueles rapazes da província, aqueles selvagens para fazer o serviço militar. Os sargentos obrigam os rapazes a encostarem-se em bicha contra a parede, segurando nas mãos os pratos. - Ilustrou a história com gestos grotescos. - Ao jantar, o sargento tem uma grande marmita de couves em frente dele, em cima da mesa, e uma grande colher do tamanho duma pá de fogão; mete a colher dentro da marmita, apanhando a couve, e atira-a para os pobres diabos que são obrigados a apanhá-la nos pratos; «Sessenta e cinco, apanhe a sua couve!».
Todos se riram novamente, mas Mr. Kernan ainda estava indignado; falava em escrever uma carta para os jornais.
- Esses Yahoos que vêm para aqui - disse ele - julgam que podem maçar as pessoas. Não preciso dizer-te, Martin, a espécie de homens que são.
Mr. Cunningham concordou.
- É como tudo neste mundo. Há alguns maus e alguns bons.
- Sim, também admito que existem alguns bons - disse, com satisfação, Mr. Kernan.
- O melhor é não ter nada que lhes dizer - acrescentou Mr. M’ Coy. - É a minha opinião.
Mrs. Kernan entrou no quarto e, enquanto colocava um tabuleiro em cima da mesa, ofereceu:
- Sirvam-se, meus senhores.
Mr. Power levantou-se e ofereceu-lhe a cadeira. Ela declinou, dizendo que estava a passar a ferro lá em baixo. Depois de trocar um sinal com Mr. Cunningham, por detrás das costas de Mr. Power, preparou-se para deixar o quarto. O marido chamou-a:
- Não tens nada para mim, patinha?
- Oh, para ti, tenho as costas da minha mão - respondeu Mrs. Kernan, asperamente.
O marido tornou a chamá-la:
- Nada para o pobre rapazinho? Assumiu uma expressão e uma voz de tal maneira cómicas, que a distribuição das garrafas de cerveja teve lugar no meio da alegria geral.