Os homens beberam e pousaram os copos na mesa. Então, Mr. Cunningham voltou-se para Mr. Power, e disse casualmente:
- Na noite de quarta-feira, não foi o que disseste, Jack?
- Sim, quarta-feira - confirmou Mr. Power.
- Bem - exclamou prontamente Mr. Cunningham.
- Podemos encontrar-nos no M' Auley - disse Mr. M’ Coy. - Será o melhor lugar.
- É preciso não irmos tarde - acrescentou Mr. Power, com seriedade - porque, com certeza, está cheio até à porta.
- Podemo-nos encontrar às sete e meia.
-Bem.
- Às sete e meia no M' Auley.
Fez-se um, pequeno silêncio. Mr. Kernan esperou, a ver se o metiam na confidência; depois perguntou:
- O que está no ar?
- Oh, não é nada - disse Mr. Cunningham. - É uma combinação que estamos a fazer para quarta-feira.
- A ópera, não é? - perguntou Mr. Kernan.
- Não, não - disse Mr. Qunningham num tom evasivo. - É um pequeno assunto espiritual.
- Ah! - fez Mr. Kernan.
Tornou a haver um silêncio. Depois, Mr. Power disse, num ímpeto:
- Para te dizer a verdade, Tom, vamos fazer um retiro.
- Aí está! - disse Mr. Cunningham -, Jack, eu e M’ Coy, vamos fazer uma limpeza.
Mr. Cunningham emitiu aquela metáfora com certa energia, e, encorajado pela sua própria voz, prosseguiu:
- Bem, temos que admitir que somos uma boa colecção de patifes, todos nós. ¬Voltando-se para os outros, perguntou: ¬Não acham?
Os dois responderam afirmativamente. - De maneira que vamos todos fazer uma limpeza - disse Mr. Cunningham.
Uma ideia repentina pareceu invadi-lo e, voltando-se repentinamente para o inválido, disse:
- Sabes o que me ocorreu, agora mesmo, Tom?... Podias juntar-te a nós.
- Boa ideia! - exclamou Mr. Power. - Iríamos os quatro.
Mr. Kernan permanecia silencioso. A proposta não lhe agradava, mas, percebendo que as matérias espirituais seriam em seu proveito, pensou que devia à sua dignidade o mostrar-se forte. Não tomou parte na conversa durante um grande bocado; limitou-se a ouvir a discussão que os seus amigos estavam sustentando acerca dos jesuítas.
- Não tenho assim tão má opinião dos jesuítas - disse ele por fim. - É uma ordem educada. E julgo que fazem bem.
- É a maior ordem da Igreja, Tom - disse Mr. Cunningham, com entusiasmo. - O principal dos jesuítas fica logo a seguir ao papa.
- Isso é uma verdade - acrescentou Mr. M’ Coy. - Se se quiser alguma coisa bem feita, é ir ter com um jesuíta! E têm uma influência!... Podia contar-lhes um caso...