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Capítulo 8: Capítulo 8

Página 76

- Que diabo é que você percebe disto?.. - berrou Farrington agressivamente. - Quem é que lhe pediu a sua opinião?..

- Ih!. .. Ih!. .. - fez O’Halloran, observando a expressão de violência no rosto de Farrington. - Juízo rapazes!... Vamos beber mais um pouco e depois toca a andar...

Um homem de rosto carrancudo esperava à esquina da Ponte O’ Connel o carro que o havia de levar para casa. Estava encolerizado e cheio de desejos de vingança. Sentia-se humilhado, e só lhe restavam dois pennies na algibeira. Odiava tudo. Arranjara grande trapalhada no escritório, empenhara o relógio, gastara o dinheiro todo e nem ao menos estava embriagado. Começou a sentir novamente sede e teve desejos de voltar para o bar. Havia perdido a sua reputação de homem forte, tendo-se deixado derrotar por um rapazote. O coração rebentava-lhe de fúria, e quando pensava na mulher do chapéu grande que esbarrara nele e dissera pardon, a fúria recrudescia.

O carro deixou-o na Rua Shelbourne, e, colado às paredes, seguiu o passeio. A ideia de voltar para casa, aborrecia-o. Quando entrou, encontrou a cozinha deserta e o lume quase apagado. Chamou para cima:

- Ada!... Ada!...

Sua esposa era uma mulher baixa, de cara perspicaz, que costumava atormentar o marido com insignificâncias. Tinham cinco filhos. Um garoto veio a correr pelas escadas abaixo.

- Quem está aí? - perguntou Farrington, através da escuridão. - Eu, papá...

- Quem? Charlie?..

- Não, pai. Tom...

- Onde está a tua mãe?..

- Foi à igreja...

- Está bem... Terá, ao menos, deixado o jantar para mim?

- Deixou, pai. Eu...

- Acende a luz. Porque está tudo às escuras? Os teus irmãos estão na cama?..

O homem deixou-se cair, pesadamente, em cima de uma cadeira, enquanto a criança acendia a luz.

-- Onde está o meu jantar?..

- Vou cozinhá-lo, pai - disse o garoto.

O homem ergueu-se com fúria e exclamou:

- Naquele lume? Deixaste apagar o lume! Por Deus, vou ensinar-te a não repetires a façanha!...

Deu um passo para a porta e agarrou a bengala, que estava encostada ao canto.

- Eu te ensinarei a não deixar apagar o lume! - disse, enquanto enrolava a manga, para deixar ao braço os movimentos livres.

A criança gritou: «Oh, pai!...» e começou a correr em volta da mesa, mas o homem seguiu-o e agarrou-o pelo casaco. O menino caiu de joelhos.

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Capa do livro Gente de Dublin
Páginas: 117
Página atual: 76

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 9
Capítulo 3 30
Capítulo 4 36
Capítulo 5 52
Capítulo 6 58
Capítulo 7 63
Capítulo 8 69
Capítulo 9 78
Capítulo 10 86