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Capítulo 9: Capítulo 9

Página 80
Ela aludiu uma ou duas vezes ao marido, mas em tom despreocupado. Chamava-se Mrs. Sinico. O bisavô de seu marido viera de Leghorn. Ela casara com um capitão da marinha mercante, que fazia serviço entre Dublin e a Holanda; tinham uma filha.

Encontraram-se pela terceira vez, por coincidência, e ele ganhou coragem para marcar um encontro. Ela compareceu. Esse foi o primeiro de muitos encontros, sempre nocturnos. Escolhiam os quarteirões mais sossegados para os seus passeios. Mr. Duffy, no entanto, não nutrindo simpatia por coisas secretas, fez com que ela o convidasse para sua casa. O capitão Sinico encorajou essas visitas, julgando ver um partido para a filha. Já tinha destronado a mulher da sua galeria de prazeres e não podia suspeitar que alguém ainda se interessasse por ela. Como o marido estava muitas vezes ausente e a filha andava a dar lições de piano, Mr. Duffy tinha muitas oportunidades de gozar a companhia da senhora. Nem um nem outro haviam andado jamais envolvidos numa aventura assim. Pouco a pouco, iam-se confundindo as suas ideias. Mr. Duffy emprestou livros à companheira, encheu-a de ideias, repartiu a sua vida intelectual com ela. Mrs. Sinico tudo escutava com atenção.

Algumas vezes, em resposta às suas teorias, contava-lhes qualquer facto da sua vida. Com uma solicitude quase maternal, insistia para que se abrisse com ela; tornou-se a sua confessora. Mr. Duffy contou-lhe que durante um tempo assistira aos meetings de um partido socialista, mas sentira-se abandonado e desprotegido no meio daqueles trabalhadores, reunidos numas águas-furtadas. Quando o partido se tinha dividido em três facções, cada uma com o seu líder, e cada uma na sua água-furtada, não voltara a comparecer. Achava as discussões dos trabalhadores muito tímidas; o interesse que mostravam na questão dos salários era desordenado e anárquico. Notara que eram realistas, mas que se ressentiam de uma exaltação provocada por leituras fora do seu alcance. Nenhuma revolução social seria capaz, de sacudir Dublin, no espaço de alguns séculos...

Mrs. Sinico perguntou-lhe uma vez porque não escrevia os seus pensamentos. «Para quê?», respondera ele, desdenhosamente. «Para competir com comerciantes de palavras, incapazes de pensarem durante sessenta segundos? Para me submeter às críticas de uma obtusa classe média, que entregava a moralidade aos polícias e as artes aos empresários?..»

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Capa do livro Gente de Dublin
Páginas: 117
Página atual: 80

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 9
Capítulo 3 30
Capítulo 4 36
Capítulo 5 52
Capítulo 6 58
Capítulo 7 63
Capítulo 8 69
Capítulo 9 78
Capítulo 10 86