Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 10: Capítulo 10

Página 88

Quando acabou de dar lustro aos sapatos, endireitou-se e puxou o colete para baixo. Em seguida, tirou rapidamente uma moeda do bolso.

- Olha, Lily - disse ele, metendo-lha nas mãos. - É a altura do Natal, não é?.. Aqui tens uma pequenina...

- Oh!... não senhor!... – gritou a rapariga, indo atrás dele. - Na verdade, não posso aceitar...

- Estamos no Natal! Estamos no Natal! - exclamou Gabriel, subindo a correr as escadas e acenando-lhe com a mão, em ar suplicante.

- Bem, muito obrigada, senhor!...

Esperou à porta da sala até que a valsa terminasse, ouvindo o barulho dos pés e das saias. Ainda estava indisposto com a resposta amarga da rapariga, que lhe trouxe uma tristeza que ele procurou dissipar, arranjando os punhos e o laço da gravata. Depois, tirou da algibeira do colete um pequeno papel e olhou para o rascunho que preparara para o seu discurso. Sentia uma certa indecisão, versando acerca das ideias de Robert Browning, porque temia que fossem superiores ao alcance dos ouvintes. Qualquer passagem que eles pudessem reconhecer como pertencendo a Shakespeare ou às Melodies teria sido melhor. A maneira pouco delicada como os homens batiam com as solas e os saltos dos sapatos no chão, fizera-lhe lembrar que o grau de cultura deles diferia bastante do seu. Tornar-se-ia unicamente ridículo, recitando versos que eles não podiam compreender. Pensariam que se estava a «dar ares», por ter uma educação superior. Falharia ali, do mesmo modo que falhara com a rapariga, na copa. Adoptara um tom falso. O seu discurso era um engano, do princípio ao fim; seria um fracasso.

Justamente nessa ocasião, sua mulher e suas tias saíram do toilette. As tias eram duas velhotas baixas e vulgares. A tia Julia, um pouco mais alta, usava o cabelo, já grisalho, penteado sobre as orelhas; apesar de ser de construção robusta e de se conservar direita, os olhos pequenos e os lábios apertados davam a impressão de uma mulher que não sabia onde estava nem para onde ia.

A tia Kate era mais viva. O seu rosto, mais saudável, estava cheio de vincos e de rugas, como se fora uma maçã encarquilhada, e o cabelo, penteado da mesma forma antiquada que o da sua irmã, ainda não perdera certas tonalidades acastanhadas.

Ambas beijaram Gabriel. Era o sobrinho favorito, o filho da irmã mais velha, Ellen, que já morrera e fora casada com T. J. Conroy, de Port and Docks.

- Gretta disse-me que esta noite não voltariam a Monkstown - disse a tia Kate.

<< Página Anterior

pág. 88 (Capítulo 10)

Página Seguinte >>

Capa do livro Gente de Dublin
Páginas: 117
Página atual: 88

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 9
Capítulo 3 30
Capítulo 4 36
Capítulo 5 52
Capítulo 6 58
Capítulo 7 63
Capítulo 8 69
Capítulo 9 78
Capítulo 10 86