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Capítulo 10: Capítulo 10

Página 94

- Bem, eu tenho vergonha por si - disse Miss Ivors, francamente. - Escrever para um jornal daqueles!... Não sabia que você era um «West Briton»!...

Gabriel ficou perplexo. Era verdade que escrevia uma coluna literária, todas as quartas-feiras, para o Daily Express, pela qual lhe pagavam quinze shillings. Mas isso certamente não o tornava um «West Briton»...

Os livros que ele recebia para criticar eram talvez ainda melhor acolhidos do que o cheque. Gostava de sentir as capas e de acariciar as folhas dos livros acabados de imprimir. Quase todos os dias, depois das suas aulas, costumava também vaguear pelas ruas à caça de livrarias. Ele não sabia o que dizer. Queria explicar que a literatura ficava acima da política. Mas eram amigos de há muitos anos e as carreiras tinham sido paralelas: primeiro na Universidade e depois como professores. Não podia construir uma frase grandiosa. Continuou a piscar os olhos e, tentando sorrir, murmurou que as críticas de versos não significavam «fazer política».

Quando chegou a altura da mudança de par, ainda estava perplexo. Miss Ivors agarrou-lhe na mão com ternura e disse, num tom amigo:

- Eu estava brincando... Agora temos de

nos separar!... .

Quando ficaram de novo juntos, ela falou sobre a Universidade, e Gabriel sentiu-se mais à vontade. Um amigo havia-lhe mostrado a crítica duns poemas de Browning.

Assim descobrira o segredo, mas gostara imensamente da crítica. Depois, de repente, perguntou:

- Mr. Conroy, não quer vir a uma excursão às ilhas Aran, este Verão?.. Vamos passar lá um mês inteiro... Deve ser esplêndido, em pleno Atlântico... Devia vir... Mr. Clancy vai e Mr. Kilkelly e Kathleen Kearney também. Seria óptimo para Gretta! Ela é do Connacht, não é?...

- A família é que é - disse Gabriel, secamente.

- Mas vai, não vai? - insistiu ela, segurando-o com força pelo braço.

- O facto é que... já escolhi lugar para onde ir...

- Para onde?

- Bem... Todos os anos vou dar uma volta de bicicleta, com alguns amigos... - Mas para onde?

- Bem... Geralmente vamos à França ou à Bélgica, ou talvez à Alemanha - disse Gabriel, acanhadamente.

- E porque vai à França e à Bélgica, em lugar de visitar a sua pátria?

- Bem... Em parte é para ter contacto com as línguas, e em parte para mudar...

- E não tem que manter contacto com a sua própria língua?

- Bem, se vamos a isso, o irlandês não é a minha língua...

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Capa do livro Gente de Dublin
Páginas: 117
Página atual: 94

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 9
Capítulo 3 30
Capítulo 4 36
Capítulo 5 52
Capítulo 6 58
Capítulo 7 63
Capítulo 8 69
Capítulo 9 78
Capítulo 10 86