O Retrato de Dorian Gray - Cap. 6: Capítulo 6 Pág. 103 / 335

Apresentou-me como um dogma; hoje há-de anunciar-me como uma revelação. Sinto-o. É tudo obra dele, só dele, do Príncipe Encantador, do meu maravilhoso namorado, do meu deus. Mas eu sou pobre ao lado dele. Pobre? Isso que importa? Quando a pobreza rasteja à porta, voa o amor pela janela dentro. É preciso refundir os nossos provérbios. Foram feitos no Inverno, e agora é Verão; para mim parece-me Primavera, uma verdadeira dança de flores no céu azul.

- É um homem da alta - disse, sombriamente, o rapaz.

- Um Príncipe! - exclamou ela, musicalmente. - Que mais queres?

- Ele quer escravizar-te.

- Faz-me tremer a ideia de ser livre.

- Quero que te acauteles dele.

- Vê-lo é adorá-lo, conhecê-lo é nele confiar.

- Sibyl, andas doida por ele!

Ela riu-se e travou-lhe do braço.

- Meu querido Jim, falas como se tivesses cem anos. Um dia também tu te hás-de enamorar. Então saberás o que é. Não estejas assim aborrecido. Devias antes ficar contente por pensares que, partindo, me deixas mais feliz do que nunca. A vida tem sido para nós penosa e difícil. Mas vai ser diferente agora. Tu vais para um mundo novo, e eu já descobri um. Aqui estão duas cadeiras; sentemo-nos e vejamos passar a gente chie.

Sentaram-se no meio da multidão que se entretinha a ver os que passavam.





Os capítulos deste livro