O Retrato de Dorian Gray - Cap. 8: Capítulo 8 Pág. 123 / 335

Fosse por que motivo fosse, o teatro achava-se aquela noite repleto, e o gordo empresário judeu recebeu-os radiante, à porta, com um sorriso untuoso e trémulo, que lhe rasgava a boca duma orelha à outra. Acompanhou-os até ao camarote com uma espécie de pomposa humildade, gesticulando com as mãos gorduchas, refulgentes de jóias, e falando muito alto.

Dorian Gray sentia por ele, mais que nunca, repugnância. Parecia-lhe que viera procurar Miranda e se lhe deparara Caliban. Lord Henry, pelo contrário, mostrou agradar-se muito dele: apertou-lhe repetidas vezes a mão e asseverou-lhe que se ufanava de encontrar um homem que descobrira um autêntico génio e falira por causa dum poeta.

Hallward entretinha-se a examinar as caras dos espectadores. Fazia um calor terrivelmente opressivo, e o enorme lustre parecia uma dália monstruosa de pétalas de fogo. Os rapazes da galeria haviam despido os casacos e os coletes e haviam-nos pendurado ao lado. Falavam uns com os outros, dum lado para o outro do teatro, e repartiam laranjas com as raparigas, que, de vestidos berrantes, estavam à sua beira. Algumas mulheres gargalhavam na plateia. As suas vozes produziam um chinfrim horrível. Vinha do restaurante o estalido das rolhas saltando das garrafas.





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