- Que lugar para encontrar uma deusa! - disse Lord Henry.
- Sim! - respondeu Dorian Gray, - Foi aqui que a encontrei, e ela suplanta em divindade tudo o que existe. Quando representa faz-nos esquecer tudo. Quando surge no palco, toda esta gente ordinária, rude, de caras grosseiras e gestos brutais, se transforma completamente. Quedam-se todos a contemplá-la em silêncio. Choram e riem com ela. Fá-los vibrar como um violino. Espiritualiza-os, e nós sentimos que eles são da mesma carne e do mesmo sangue que nós.
- Da mesma carne e do mesmo sangue que nós!...
Oh! Isso é que não! - exclamou Lord Henry, que analisava com o binóculo os espectadores da galeria.
- Não faça caso do que ele diz, Dorian - interveio o pintor. - Compreendo o que quer dizer, e creio nessa rapariga. Quem quer que você ame deve ser uma maravilha, e uma rapariga que produz o efeito que você descreve deve ser bela e nobre. Espiritualizar a nossa época - é muito para apreciar.