O Retrato de Dorian Gray - Cap. 8: Capítulo 8 Pág. 138 / 335

Voltou-se, foi à janela e subiu a cortina. O esplendor da manhã inundou o quarto e varreu as fantásticas sombras para os cantos, onde se acoitaram tremendo. Mas a estranha expressão que descobrira no rosto do retrato não se desvanecia; parecia, pelo contrário, acentuar-se mais. Os raios palpitantes e ardentes do sol realçavam em redor da boca as linhas de crueldade, com tamanha nitidez como se olhasse para um espelho depois de haver cometido algum acto horrível.

Recuou, e, pegando num espelho oval emoldurado em Cupidos de marfim, um dos muitos presentes de Lord Henry, mirou-se e remirou-se com avidez. Nenhuma linha assim turvava a harmonia dos seus lábios rubros. Que queria aquilo dizer?

Esfregou os olhos, aproximou-se mais do quadro e examinou-o de novo. Nenhum indício havia de a pintura ter sido modificada, e, contudo, nenhuma dúvida havia de que a expressão mudara. Não, não era fantasia sua. Era duma evidência horrível.

Atirou-se para uma poltrona e pôs-se a cismar. De súbito veio-lhe à mente o que dissera no atelier de Basil Hallward, no dia em que fora concluído o retrato. Sim, recordava-se perfeitamente.





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