O Retrato de Dorian Gray - Cap. 9: Capítulo 9 Pág. 153 / 335

Recordo-me de você me dizer um dia que sobre as boas resoluções pesa uma fatalidade: tomam-se sempre demasiado tarde. As minhas confirmam-no...

- As boas resoluções são inúteis tentativas para interferirmos nas leis científicas. Têm por origem a vaidade pura. O seu resultado é absolutamente nulo. Dão-nos, de vez em quando, algumas dessas voluptuosas e estéreis emoções que têm um certo encanto para os fracos. É tudo quanto delas se pode dizer. São simplesmente cheques que os homens sacam sobre um banco onde não têm cobertura.

- Henry - exclamou Dorian Gray, vindo sentar-se ao lado do amigo -, por que é que não posso sentir esta tragédia tanto quanto queria? Não me julgo desprovido de coração, que lhe parece?

- As tolices que tem feito nestes quinze dias são tantas, Dorian, que não permitem considerá-lo assim - respondeu Lord Henry, com o seu doce e melancólico sorriso.

O jovem franziu as sobrancelhas e retorquiu:

- Não me agrada essa explicação, Henry, mas estimo que me não considere sem coração. E, contudo, devo admitir que o que aconteceu não me afectou como devia ter afectado. Parece-me ser apenas como o desfecho admirável duma admirável peça. Tem toda a terrível beleza duma tragédia em que eu desempenhei um grande papel, mas em que não fui ferido.





Os capítulos deste livro