- É uma questão interessante - disse Lord Henry, que se deleitava imenso a brincar com o egotismo inconsciente do jovem -, uma questão extremamente interessante. Parece-me que a verdadeira explicação é a seguinte: sucede frequentemente que as tragédias reais da vida ocorrem dum modo tão inartístico, que nos magoam pela sua crua violência, pela sua absoluta incoerência, pela sua absurda falta de significação, pela sua completa carência de estilo. Afectam-nos precisamente como nos afecta a vulgaridade. Dão-nos uma impressão de força bruta apenas, e nós revoltamo-nos contra isso. Às vezes, porém, surge nas nossas vidas uma tragédia com elementos artísticos de beleza. Se esses elementos de beleza são reais, põem simplesmente em jogo o nosso sentido de efeito dramático. De súbito descobrimos que já não somos actores, mas sim espectadores da peça. Ou, melhor, somos uma coisa e outra. Observamo-nos a nós mesmos e deixamo-nos arrebatar pelo maravilhoso do espectáculo. No caso presente, que é que na realidade sucedeu? Alguém que se matou por amor de você. Quem me dera ter tido uma aventura assim! Ter-me-ia feito amar o amor para o resto da minha vida. As mulheres que me têm adorado - não têm sido muitas, mas têm sido algumas - têm sempre querido continuar a viver, muito tempo depois de eu ter deixado de me importar com elas ou de elas terem deixado de se importar comigo.