O Retrato de Dorian Gray - Cap. 9: Capítulo 9 Pág. 155 / 335

Engordaram e tornaram-se fastidiosas, e, quando as encontro, abrem logo o capítulo das reminiscências. Que terrível memória a das mulheres! Que coisa pavorosa! E que absoluta estagnação intelectual revela! Nós poderíamos absorver a cor da vida, mas nunca poderíamos recordar-lhe as minúcias. As minúcias são sempre vulgares.

- Tenho de semear papoilas no meu jardim - suspirou Dorian.

- Não é necessário - volveu o seu companheiro. A vida tem sempre papoilas nas mãos. É claro, as coisas, de quando em quando, demoram mais tempo. Uma vez, usei só violetas durante uma estação inteira, como forma artística de luto por um romance que não queria morrer. Afinal, sempre chegou um dia em que morreu. Não sei já o que foi que o matou. Parece-me que foi ela propor-se sacrificar por mim o mundo inteiro. É sempre um momento terrível. Enche-nos do terror da eternidade. Bem - quer acreditar? - há uma semana, em casa de Lady Hampshire, achei-me sentado, ao jantar, ao lado da dama em questão; e ela insistiu para que nós recomeçássemos o futuro. Eu havia sepultado o meu romance num leito de asfódelos...





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