O Retrato de Dorian Gray - Cap. 9: Capítulo 9 Pág. 156 / 335

Ela exumou-o e assegurou-me que eu lhe estragara a vida. Pois afianço-lhe que comeu um enorme jantar, e por isso não me afligi. Mas que falta de gosto ela revelou! O único encanto do passado é ser o passado. Mas as mulheres nunca sabem quando caiu o pano. Querem sempre um sexto acto, e, mal termina o interesse da peça, pretendem continuá-la. Se as deixassem fazer o que elas querem, todas as comédias teriam um desenlace trágico e todas as tragédias redundariam em farsa. São encantadoramente artificiais, mas não têm nenhuma noção de arte. Você é mais feliz do que eu. Asseguro-lhe, Dorian, que nenhuma das mulheres que tenho conhecido teria feito por mim o que por você fez a Sibyl Vane. As mulheres ordinárias consolam-se sempre. Algumas buscam a consolação nas cores sentimentais. Nunca confie numa mulher que se vista cor de malva, seja qual for a sua idade, nem numa mulher de mais de trinta e cinco anos que goste de fitas cor-de-rosa. Significa sempre que têm uma história. Outras acham grande consolação em subitamente descobrirem as boas qualidades dos maridos. Lançam-nos à cara a sua felicidade conjugal, como se fosse o mais fascinante dos pecados. A religião consola algumas. Os seus mistérios têm todo o encanto dum namoro, disse-me uma vez uma mulher; e eu compreendo-o perfeitamente.




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