O Retrato de Dorian Gray - Cap. 9: Capítulo 9 Pág. 157 / 335

Além disso, nada nos envaidece tanto como qualificarem-nos de pecadores. A consciência faz de nós todos egoístas... Sim, não têm, realmente, fim as consolações que as mulheres encontram na vida moderna. Com efeito, não mencionei a mais importante.

- Qual é, Henry? - perguntou, alheadamente, o Jovem.

- Oh, a consolação óbvia: tomarem os admiradores das outras, quando perdem os seus. Na boa sociedade isso reabilita sempre uma mulher. Mas, realmente, Dorian, que diferente devia ser a Sibyl Vane de todas as mulheres que a gente encontra! Há para mim uma certa beleza na sua morte. Regozijo-me por viver num século em que sucedem prodígios destes. Fazem-nos acreditar na realidade das coisas com que brincamos, como o romance, a paixão, o amor.

- Fui para ela duma crueldade terrível. Você esquece isso.

- Parece-me que as mulheres apreciam a crueldade, a extrema crueldade, mais do que tudo. Têm instintos admiravelmente primitivos. Nós emancipámo-las; mas, afinal, elas continuam sendo escravas à procura dos seus senhores. Gostam de ser dominadas. Tenho a certeza de que você foi magnífico. Eu nunca o vi real e absolutamente zangado, mas imagino que deve ter sido soberbo! E, afinal, você disse-me anteontem alguma coisa que nessa ocasião me pareceu pura fantasia, mas vejo agora ser absolutamente verdade, e que é para mim a chave de tudo.





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