- Que foi, Henry?
- Disse-me que a Sibyl Vane representava para você todas as heroínas da literatura, que ela era Desdémona uma noite e Ofélia na seguinte; que, se morria como Julieta, ressuscitava como Imogénia.
- Agora é que não ressuscita - murmurou o moço, ocultando a cara com as mãos.
- Não, não ressuscita. Representou o seu último papel. Mas deve considerar essa morte solitária no aparatoso camarim como um estranho e lúgubre fragmento dalguma tragédia jacobiana, como uma cena admirável de Webster, Ford ou Cyril Tourneur. A pequena nunca na realidade viveu e, assim, nunca na realidade morreu. Para você, pelo menos, foi sempre um sonho, um fantasma que adejava pelas peças de Shakespeare e, com a sua presença, lhes infundia graça e encanto, uma cena através da qual a música de Shakespeare se enriquecia de som e alegria. Estragou a vida no momento em que entrou em contacto com a realidade, e a vida estragou-a a ela, e por isso morreu... Chore por Ofélia, se quiser. Cubra de cinza a cabeça por Cordélia haver sido estrangulada. Clame contra o céu por haver morrido a filha de Brabantio. Mas não desperdice as suas lágrimas sobre o cadáver de Sibyl Vane. Era menos real do que elas.