Seguiu-se um silêncio. O crepúsculo envolvia o quarto. Sem ruído e com pés de prata as sombras avançavam do jardim. As cores das coisas iam-se lentamente esbatendo.
Passado algum tempo, Dorian Gray ergueu a cabeça e murmurou com um suspiro de alívio:
- Explicou-me a mim mesmo, Henry. Sentia tudo o que você disse, mas tinha medo e não podia exprimi-lo a mim mesmo. Que bem me conhece! Mas não tornemos a falar do que aconteceu. Foi uma experiência maravilhosa. Nada mais. Gostava de saber se a vida ainda me reserva alguma coisa tão maravilhosa como isso.
- A vida reserva-lhe tudo, Dorian. Não há nada que você, com a sua extraordinária beleza, não possa conseguir.
- Mas suponha, Henry, que eu envelheço, me torno grotesco, me encho de rugas... Que será de mim, então?
- Oh, então - retorquiu Lord Henry, erguendo-se para sair - então, meu querido Dorian, tem de disputar as suas vitórias. Agora vêm elas ao seu encontro. Não! Tem de conservar a sua beleza. Nós vivemos numa época que lê demais para ser sábia e que pensa demais para ser bela. Não podemos passar sem você. E agora é melhor ir vestir-se para irmos para o clube. Já chegamos tarde.