O Retrato de Dorian Gray - Cap. 9: Capítulo 9 Pág. 162 / 335

Eterna juventude, infinita paixão, prazeres subtis e secretos, desvairadas alegrias, e mais desvairados pecados tudo isso ela havia de ter. O retrato suportaria o peso da sua vergonha: nada mais!

Invadiu-o uma sensação de dor ao pensar na degradação que estava reservada para o belo rosto do quadro. Uma vez, numa pueril imitação de Narciso, beijara, ou fingira beijar, aqueles lábios pintados que lhe sorriam agora tão cruelmente. Passara manhãs e manhãs sentado em frente do retrato, maravilhado da sua beleza, quase dela enamorado... Ia agora essa beleza alterar-se a cada modalidade da sua existência? Ia transformar-se numa coisa monstruosa e repugnante, que fosse necessário fechar num quarto secreto, esconder do sol, que tantas vezes refulgira no oiro maravilhoso do seu cabelo? Que pena! Que pena!

Pensou por um momento pedir que cessasse a horrível solidariedade que existia entre ele e o retrato. Fora um pedido seu que provocara a alteração; talvez novo pedido a detivesse... E, no entanto, quem, tudo conhecendo da vida, renunciaria à possibilidade de permanecer eternamente jovem, por mais fantástica que fosse tal possibilidade, fossem quais fossem as consequências fatais que daí derivassem? Demais a mais, dependia, porventura, isso do seu querer?





Os capítulos deste livro