O Retrato de Dorian Gray - Cap. 10: Capítulo 10 Pág. 169 / 335

Ninguém, a não ser os sentimentalistas, o pode fazer. E você é cruelmente injusto, Basil. Vem cá para me consolar. É gentilíssimo da sua parte. Encontra-me consolado e fica furioso! Que simpática pessoa! Lembra-me uma história que me contou o Henry acerca dum certo filantropo que passou vinte anos a procurar reparar uma ofensa ou modificar uma lei injusta, não me recordo exactamente. Um dia, por fim, conseguiu-o, e nada podia exceder a sua decepção: não tinha absolutamente nada que fazer, quase morria de tédio e descambou num perfeito misantropo. E, demais a mais, meu caro Basil, se você me quer realmente consolar, ensine-me a esquecer o que aconteceu ou a vê-lo sob o mero ponto de vista artístico. Não foi Gautier que escreveu sobre la consolation des arts? Lembro-me de um dia, no seu atelier, pegar num livro encadernado em velino e deparar-se-me essa deliciosa frase. Sim, eu não sou como aquele rapaz de que você me falou, quando fomos juntos a Marlow, aquele rapaz que dizia que o cetim amarelo podia consolar uma pessoa de todas as misérias da vida. Amo as coisas belas que a gente pode tocar e manejar. Velhos brocados, bronzes verdes, lacas, marfins esculpidos, ambientes requintados, luxo, fausto, de tudo isso se pode tirar grande proveito.




Os capítulos deste livro