O Retrato de Dorian Gray - Cap. 10: Capítulo 10 Pág. 170 / 335

Mas o temperamento artístico que essas pessoas criam, ou de qualquer forma revelam, vale para mim ainda mais. Tornarmo-nos os espectadores da nossa própria vida, como diz o Henry, é escapar ao sofrimento da vida. Conheço a sua surpresa por me ver falar assim. Não compreendeu como eu me tenho desenvolvido. Era um colegial, quando você me conheceu. Sou um homem agora. Tenho novas paixões, novos pensamentos, novas ideias. Sou diferente, mas você não deve gostar menos de mim. Estou mudado, mas deve sempre ser meu amigo. Gosto, é claro, do Henry. Mas bem sei que você é melhor do que ele. Não é mais forte - receia demasiado a vida - mas é melhor. E que felizes nós éramos juntos! Não me deixe, Basil, e não discuta comigo. Sou o que sou. Nada mais há que dizer!

O pintor sentia-se estranhamente comovido. O jovem era-lhe infinitamente querido, e fora a sua personalidade que revelara e decidira a sua arte. Não podia suportar a ideia de continuar a censurá-lo. Afinal de contas, a sua indiferença era provavelmente apenas uma modalidade passageira do seu espírito. Havia nele tanta coisa boa, tanta coisa nobre.

- Perfeitamente, Dorian - disse, por fim, com um sorriso triste. - Nunca mais lhe falarei desta coisa horrível. Somente espero que o seu nome não seja imiscuído neste caso. Esta tarde vão proceder às investigações. Intimaram-no?





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