O Retrato de Dorian Gray - Cap. 2: Capítulo 2 Pág. 17 / 335

Inconscientemente, ele define para mim as linhas duma nova escola, uma escola que há-de condensar em si toda a paixão do espírito romântico, toda a perfeição do espírito grego. A harmonia da alma e do corpo - que grande coisa isso é! Na nossa loucura, nós separámos a alma do corpo e inventámos um realismo que é vulgar, uma idealidade que é vazia. Henry! Se você soubesse o que é Dorian Gray para mim! Lembra-se daquela paisagem minha, pela qual Agnew me ofereceu uma fortuna, mas de que eu me não quis desfazer? É urna das melhores coisas que eu tenho feito. E porquê? Porque, enquanto a pintava, tinha ao meu lado Dorian Gray. Não sei que subtil influência dimanava dele para mim, e, pela primeira vez na minha vida, vi na paisagem a maravilha que eu sempre procurava e que sempre se me esquivava.

- Basil, isso é extraordinário! Preciso de ver Dorian Gray.

Hallward levantou-se e pôs-se a passear pelo jardim.

Passado algum tempo, voltou para junto do seu amigo.

- Henry - disse ele - Dorian Gray é para mim apenas um motivo de arte. Você talvez nada veja nele. Eu vejo tudo. Ele nunca está mais presente na minha obra do que quando nela não aparece a sua imagem. É uma sugestão, como eu disse, duma nova maneira. Encontro-o nas curvas de certas linhas, no encanto e nas subtilezas de certas cores. Nada mais.





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