O Retrato de Dorian Gray - Cap. 2: Capítulo 2 Pág. 18 / 335

- Então por que é que não expõe o retrato dele? - perguntou Lord Henry.

- Porque, sem querer, pus nele alguma expressão de toda esta curiosa idolatria artística, da qual, claro está, nunca lhe falei. Ele nada sabe a esse respeito. Nunca o saberá. Mas o mundo poderia adivinhá-lo; e eu não quero desnudar a minha alma à espionagem dos seus olhos boçais. Nunca o seu microscópio perscrutará o meu coração.

Há neste retrato demasiado da minha alma, Henry, demasiado da minha alma!

- Os poetas não são tão escrupulosos como você. Sabem a utilidade que tem uma paixão para a publicação dos seus livros. Hoje em dia um coração despedaçado garante muitas edições.

- Odeio-os por isso - exclamou Hallward. - Um artista deve criar coisas belas, mas nada deve pôr nelas da sua vida. Vivemos numa época em que os homens tratam a arte como se ela devera ser uma forma de autobiografia. Perdemos a noção abstracta de beleza. Um dia hei-de eu revelá-la ao mundo; e por essa razão é que o mundo nunca há-de ver o meu retrato de Dorian Gray.

- Parece-me que faz mal, Basil, mas não quero discutir consigo. Só os intelectualmente perdidos é que discutem. Diga-me, Dorian Gray é seu amigo?

O pintor reflectiu por alguns instantes.





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