- Gosta de mim - respondeu após uma pausa -, sei que gosta de mim. É claro que eu o lisonjeio terrivelmente. Acho um estranho prazer em dizer-lhe coisas que eu sei lastimarei depois. Em regra, ele é afectuoso para comigo, e passamos horas no
atelier a conversar de mil coisas. De vez em quando, porém, alheia-se numa horrível indiferença, e parece ter verdadeiro prazer em me fazer sofrer. Sinto então, Henry, que dei toda a minha alma a alguém que a trata como se fora uma flor para enfeitar o casaco, uma condecoração para afagar a vaidade, um atavio para um dia de verão.
- Os dias de verão, às vezes, arrastam-se, Basil - murmurou Lord Henry. - Talvez você se canse primeiro do que ele. É triste pensá-lo, mas é fora de dúvida que o Génio dura mais que a Beleza. Isto explica o facto de nós nos afadigarmos tanto em nos supereducarmos. Na feroz luta pela existência, nós queremos ter alguma coisa que perdure, e, por isso, atulhamos de factos o nosso espírito, na estulta esperança de conservarmos o nosso lugar. Um homem bem informado em todos os ramos do saber - eis o ideal moderno. E o espírito dum homem assim é terrível. É como uma loja de bricabraque, toda cheia de monstros e de pó, repleta de coisas que se vendem a preços muito superiores ao seu valor real.