Que importava? Ninguém a poderia ver. Nem mesmo ele a veria. Porque havia de contemplar a hedionda corrupção da sua alma? Conservava a sua mocidade - isso lhe bastava. E, demais a mais, não poderia a sua índole tornar-se, afinal, mais bela? Nenhuma razão havia para o futuro ser tão cheio de opróbrio. Podia surgir-lhe na vida um amor que o purificasse e o protegesse contra aqueles pecados que já em torno de si pareciam adejar em espírito e carne - aqueles curiosos pecados jamais descritos, cuja subtileza e cujo encanto dimanava do próprio mistério. Talvez que um dia se dissipasse o terrível vinco que deformava a boca rubra e sensitiva e que ele enfim pudesse mostrar ao mundo a obra-prima de Basil Hallward.
Não, era impossível! Hora a hora, semana a semana, a imagem pintada na tela ia envelhecendo. Podia escapar à hediondez do pecado, mas não à hediondez da idade. As faces cavar-se-lhe-iam ou tornar-se-lhe-iam flácidas. Em torno dos olhos alastrar-se-iam as rugas, que os tornariam horríveis. O cabelo perderia o seu brilho, a boca arrepanhar-se-ia, dar-lhe-ia a aparência imbecil ou grosseira dos velhos. Viriam as rugas no pescoço, apareceriam as veias azuis nas mãos frias, torcer-se-lhe-ia o corpo, como a seu avô, que tão severo fora para ele na sua meninice.