O Retrato de Dorian Gray - Cap. 12: Capítulo 12 Pág. 219 / 335

Corriam muitas histórias a seu respeito, já depois de haver completado vinte e cinco anos. Rumorejava-se que o haviam visto altercar com marinheiros estrangeiros, numa alfurja para os lados remotos de Whitechapel, e que se bandeava com gatunos e moedeiros falsos e andava a par das suas artes misteriosas. Tornaram-se notadas as suas ausências extraordinárias, e, quando reaparecia na sociedade, os homens cochichavam uns com os outros pelos cantos, passavam por ele com um sorriso escarninho ou fitavam-no com um olhar frio e perscrutador, como se pretendessem arrancar-lhe o seu segredo.

Ele, é claro, não dava por tais insolências e atitudes desrespeitosas, e, na opinião da maioria das pessoas, os seus modos francos e lhanos, o seu encantador sorriso de rapaz e a infinita graça daquela maravilhosa juventude, que parecia nele eternizar-se, eram por si sós resposta suficiente às calúnias (era o termo empregado) que a seu respeito circulavam. Notou-se, porém, que alguns daqueles que mais intimamente com ele haviam privado pareciam, passado algum tempo, evitá-lo. As mulheres, que doidamente o haviam adorado e que por amor dele haviam arrostado com toda a censura social e afrontado as convenções, empalideciam de horror ou de vergonha, quando Dorian Gray entrava na sala.





Os capítulos deste livro