O Retrato de Dorian Gray - Cap. 12: Capítulo 12 Pág. 221 / 335

A insinceridade é assim uma coisa terrível? Penso que não. É simplesmente um método pelo qual nós podemos multiplicar as nossas personalidades.

Era essa, de certo modo, a opinião de Dorian Gray.

Admirava-se da superficialidade da psicologia daqueles que concebem o Eu no homem como uma coisa simples, permanente, duma só essência, e em que se pode confiar. Para ele, pelo contrário, o homem era um ser com miríades de vidas e miríades de sensações, uma criatura complexamente multiforme, que trazia dentro de si estranhos legados de pensamento e paixão, cuja própria carne estava infeccionada das monstruosas doenças dos mortos. Gostava de divagar pela fria e nua galeria da sua casa de campo e contemplar os vários retratos daqueles cujo sangue lhe corria nas veias. Aqui era Philip Herbert, descrito por Francis Osborne nas Memoires on the Reigns of Queen Elizabetn and King James como um homem que «a corte adulava pelo seu belo rosto, que, porém, não fruiu por muito tempo». A vida que ele às vezes levava era do jovem Herbert? Havia algum estranho germe envenenado transitado de corpo em corpo até chegar ao seu? Foi alguma vaga reminiscência dessa graça decaída que, tão subitamente e quase sem motivo, o levara a emitir, no atelier de Basil Hallward, aquele louco anelo que tanto transformara a sua vida?





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