O Retrato de Dorian Gray - Cap. 14: Capítulo 14 Pág. 241 / 335

- Nunca é demasiado tarde, Dorian. Ajoelhemos e vejamos se nos podemos lembrar duma oração. Não há algures um versículo «Embora os teus pecados sejam rubros como escarlate, eu os tornarei alvos como neve»?

- Essas palavras nada significam para mim agora.

- Cale-se! Não diga isso. Basta o mal que já fez na vida. Meu Deus! Não vê aquela maldita cara a espreitar-nos?

Dorian Gray olhou para o retrato, e, de chofre, apoderou-se dele um incoercível sentimento de ódio a Basil Hallward, como se lhe houvera sido sugerido pela efígie da tela, como se lho houveram vertido nos ouvidos aqueles lábios escarninhos. Estuavam nele as paixões dum animal acossado, e execrava o homem que ali estava sentado à mesa, como, em toda a sua vida, jamais execrara alguém. Olhou desvairadamente em roda. Na sua frente, sobre uma arca pintada, reluzia alguma coisa que lhe atraiu o olhar. Sabia o que era. Era uma faca que, uns dias antes, trouxera para cortar um pedaço de corda e que se esquecera de levar embora. Acercou-se dela lentamente, passando por trás de Hallward. Agarrou-a e voltou-se. Hallward mexeu-se na cadeira, como se fosse a levantar-se. Precipitou-se sobre ele e cravou-lhe a faca na grande veia por trás da orelha, e, esmagando-lhe a cabeça contra a mesa, vibrou-lhe facadas à doida...





Os capítulos deste livro