Olhou para os seus dedos brancos e afilados, estremecendo levemente, e continuou folheando até chegar àquelas encantadoras estâncias sobre Veneza:
Sur une gamme chromatique, Le sein de perles ruisselant, La Vénus de l'Adriatique
Sort de l' eau son corps rose et blanc.
Les dômes, sur l'azur des andes Suivant la phrase au pur contour, S'enflent comme des gorges rondes Que soulêve un soupir d'amour.
L 'esquif aborde et me dépose, Jetant son amarre au pilier, Devant une façade rase,
Sur le marbre d'un escalier.
Que beleza! Lendo-os, tinha a impressão de descer os verdes canais da cidade cor-de-rosa e pérola, numa gôndola negra, de proa de prata e cortinas tremulantes. Esses simples versos pareciam-lhe aquelas linhas rectas de azul-turquesa que nos seguem ao afastarmo-nos do Lido. Os subtis lampejos de cor lembravam-lhe as gargantas irisadas das aves que enxameiam em roda do alto Campanilo, ou deambulam com graça e majestade pelas arcadas lôbregas e poeirentas. Recostando-se com os olhos semicerrados, não cessava de repetir:
Devant une façade rose, Sur le marbre d'un escalier.
Veneza estava toda nesses dois versos. Recordou-se do Outono que lá passara e dum admirável amor que o impelira a loucos, deliciosos desvarios.