O Retrato de Dorian Gray - Cap. 15: Capítulo 15 Pág. 250 / 335

Em todos os lugares havia romance, e, para os verdadeiros românticos, o fundo era tudo, ou quase tudo. Basil estivera com ele parte do tempo e apaixonara-se pelo Tintoreto. Pobre Basil! Que maneira horrível de um homem morrer! Suspirou, pegou de novo no volume e tentou esquecer.

Leu os versos sobre as andorinhas que, em Esmirna, enquanto, no café, os hadjis contam as contas de âmbar e os mercadores, de cabeças envoltas em turbantes, fumam enormes cachimbos e conversam gravemente, entram e saem com a maior liberdade; leu o poema sobre o obelisco da Place de la Concorde, que chora lágrimas de granito no seu exílio sem sol e anseia por regressar ao Nilo ardente e coberto de lótus, onde há esfinges, íbis vermelhos e cor-de-rosa, abutres brancos de garras douradas e crocodilos de pequenos olhos de berilo, que rastejam sobre o lodo verde e fumegante; começou a pensar nesses versos que, arrancando música do mármore manchado de beijos, falam daquela curiosa estátua que Gautier compara a uma voz de contralto, o monstre charmant, que dorme na sala de pórfiro do Louvre. Passado, porém, algum tempo, caiu-lhe o livro da mão. Estava nervoso e acometera-o um horrível acesso de terror. Que faria, se Alan Campbell estivesse ausente de Inglaterra? Passar-se-iam dias até o seu regresso. Talvez até se recusasse a vir. Que faria então?





Os capítulos deste livro