Cada momento que passava era duma importância vital. Haviam sido em tempos - já lá iam cinco anos - grandes amigos, quase inseparáveis. Depois, bruscamente, essa intimidade terminou. Quando agora se encontravam na sociedade, era só Dorian que sorria: Alan Campbell nunca...
Era um rapaz extremamente inteligente, mas não manifestava apreço pelas artes plásticas, e, se sentia um pouco a beleza da poesia, devia-o exclusivamente a Dorian Gray. A sua paixão intelectual absorvente era a ciência. Em Cambridge passara a maior parte do tempo a trabalhar no laboratório e obtivera uma alta classificação em ciências naturais. Dedicava-se ainda ao estudo da química e tinha um laboratório seu, em que se encerrava o dia todo, com grande desespero de sua mãe, que sonhara para ele um lugar no Parlamento e tinha a vaga ideia de que um químico era um homem que aviava receitas. Era, porém, excelente músico, e tocava violino e piano melhor do que a maior parte dos amadores. Fora, na verdade, a música que o pusera em contacto com Dorian Gray - a música e essa indefinível atracção que Dorian parecia ter a faculdade de exercer sempre que lhe aprazia e que muitas vezes exercia até inconscientemente. Haviam-se encontrado em casa de Lady Berkshire, na noite em que lá tocou Bernstein, e depois viam-se sempre juntos na Ópera e em toda a parte onde se ouvia boa música.