Dorian ergueu-se de repelão. Perpassou-lhe pela mente, como um relâmpago, uma esperança terrível. Aferrou-se a ela loucamente.
- Onde está o cadáver? - perguntou. - Depressa!
Preciso de o ver imediatamente.
- Está numa cavalariça vazia, no casal. Ninguém quer mortos em casa. Dizem que trazem desgraça...
- No casal! Vá para lá imediatamente e espere por mim. Diga a um dos criados que me traga já o cavalo. Não! Deixe! Vou eu mesmo às cavalariças. Poupa-se tempo.
Em menos de um quarto de hora descia Dorian Gray a toda a brida a avenida. As árvores pareciam fugir na sua frente como uma procissão espectral, e sombras desordenadas cruzavam-se-lhe no caminho. Uma vez a égua tropeçou num poste e quase o atirou ao chão. Fustigou-a no pescoço com o pingalim. A égua fendeu o ar como uma seta. As pedras saltavam-lhe debaixo dos cascos.
Finalmente chegou ao casal. Dois homens passeavam no pátio. Saltou do selim e atirou as rédeas a um deles. Na cavalariça mais distante bruxuleava uma luz. Alguma coisa parecia dizer-lhe que estava ali o cadáver. Correu para a porta e pôs a mão no ferrolho.
Hesitou um momento, sentindo que se encontrava à beira duma descoberta que salvaria ou estragaria para sempre a sua vida. Decidiu-se, enfim; empurrou a porta e entrou.