O Retrato de Dorian Gray - Cap. 3: Capítulo 3 Pág. 33 / 335

Subitamente, atravessara-se-lhe na vida alguém que parecia haver-lhe desvendado o mistério da vida. E, todavia, que tinha que recear? Não era um colegial, não era uma menina. Era absurdo ter medo.

- Vamo-nos sentar à sombra - disse Lord Henry.

- O Parker já trouxe os refrescos, e, se o senhor se demorar mais tempo aqui, esta exuberância de luz estragá-lo-á e o Basil nunca mais o quererá pintar. Nunca se deve deixar crestar pelo sol. Ficar-lhe-ia muito mal.

- Que importa isso? - exclamou Dorian Gray, rindo, ao sentar-se num banco, no extremo do jardim.

- Importaria tudo para si, Sr. Dorian Gray.

- Porquê?

- Porque tem a mais maravilhosa mocidade, e a mocidade é a única coisa que vale a pena ter.

- Não sinto isso, Lord Henry.

- Não, não o sente agora. Um dia, quando estiver velho, enrugado e feio, quando o pensamento lhe houver riscado a testa com os seus vincos, quando a paixão lhe houver acendido nos lábios as suas chamas hediondas, há-de senti-lo, há-de senti-lo terrivelmente. Agora, para onde quer que vá, encanta o mundo. Será sempre assim?.. O Sr. Gray tem um rosto maravilhosamente belo. Não carregue as sobrancelhas. Tem, sim. E a beleza é uma forma do Génio - é, na verdade, superior ao Génio, pois que não necessita de explicação.





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