O Retrato de Dorian Gray - Cap. 20: Capítulo 20 Pág. 330 / 335

Então sentiu asco da sua beleza, e atirando o espelho ao chão, esmigalhou-o com o tacão da bota. Fora a sua beleza a causa da sua desgraça, a sua beleza e a mocidade, que com tanto empenho procurara conservar. Se não fossem estas duas coisas, poderia ter tido uma vida impoluta. A sua beleza fora para ele apenas uma máscara, a sua mocidade apenas um escárnio. Que era, afinal, a mocidade? Uma quadra verde, imatura, de caprichos fúteis e pensamentos mórbidos. Porque envergara a sua libré? A mocidade estragara-o...

Era melhor não pensar no passado. Nada o podia alterar. Era em si próprio, e no seu futuro, que devia pensar. James Vane achava-se sepultado numa campa anónima do cemitério de Selby. Alan Campbell matara-se uma noite no seu laboratório, mas não revelara o seu segredo que fora obrigado a conhecer. A excitação despertada pelo desaparecimento de Basil Hallward não tardaria a dissipar-se. Estava já a desvanecer-se. Estava, pois, absolutamente seguro. Não era, porém, a morte de Basil Hallward o que mais lhe acabrunhava o espírito: o que mais o atormentava era a morte viva da sua alma. Basil pintara o retrato que lhe transtornara a vida. Não lho podia perdoar. Foi o retrato o causador de tudo. Basil dissera-lhe coisas incomportáveis e que, no entanto, suportara com paciência.





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