O Retrato de Dorian Gray - Cap. 20: Capítulo 20 Pág. 331 / 335

O assassínio fora apenas a loucura dum momento. Quanto a Alan Campbell, o seu suicídio fora um acto puramente pessoal. Fez o que muito bem lhe aprouve. Nada tinha com isso...

Uma vida nova! Era o que ele queria. Era o que esperava. Havia-a já, com certeza, iniciado. Poupara uma criatura inocente. Nunca mais tentaria a inocência. Seria bom.

Ao pensar em Hetty Merton, começou a perguntar a si mesmo se o retrato, fechado lá em cima no quarto, haveria mudado. Decerto não tinha as feições tão horríveis como da última vez que o vira... Se a sua vida se tornasse pura, talvez pudesse expungir da tela todos os estigmas das paixões ruins. Talvez até já houvesse desaparecido... Iria ver.

Pegou no candeeiro e subiu as escadas furtivamente.

Ao abrir a porta, perpassou-lhe pelo rosto juvenil um sorriso de júbilo, que se lhe demorou um momento nos lábios. Sim, seria bom, e nunca mais o aterraria a tela hedionda que escondera. Parecia-lhe até sentir-se já aliviado desse peso...

Entrou de mansinho, fechando a porta à chave, como tinha por costume, e afastou a cortina de púrpura que encobria o retrato. Irrompeu-lhe dos lábios um grito de dor e indignação. Não viu modificação alguma, a não ser nos olhos uma expressão de astúcia e na boca o vinco recurvo do hipócrita.





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