Capítulo 20: Capítulo 20
Página 332
O retrato continuava asqueroso como antes - mais asqueroso ainda, se é possível - e o orvalho escarlate que lhe manchava a mão parecia mais rútilo, mais vivo, como se fora sangue recente. Tremeu então. Fora apenas a vaidade que o levara a praticar a sua única boa acção? Fora o desejo duma sensação nova, como, com o seu riso de zombaria, notara Lord Henry? Ou fora, antes, aquela paixão de representar um papel, que nos impele às vezes a fazer coisas mais belas que nós mesmos? Ou, talvez, tudo isso? E por que é que a mancha encarnada estava agora maior do que dantes? Parecia haver alastrado como doença horrível sobre os dedos engelhados. Os pés estavam salpicados de manchas rubras, como se sobre eles escorresse o sangue de toda aquela monstruosidade - havia sangue até na mão que não pegara na faca. Confessar? Queria isso dizer que devia confessar? Entregar-se à polícia e ser condenado à morte? Riu-se. Sentia que era monstruosa essa ideia. Além disso, ainda mesmo que o confessasse, quem o acreditaria? Não havia em parte alguma o mínimo rastro do assassinado. Tudo o que lhe pertencia havia sido destruído. Ele próprio queimara o que ficara na biblioteca. A sociedade limitar-se-ia a classificá-lo de doido. Interná-lo-iam, se insistisse na sua história... Todavia, era seu dever confessar, sofrer o opróbrio público, expiar publicamente o seu crime.
|
|
 |
Páginas: 335
|
|
|
|
|
|
Os capítulos deste livro:
|
|
|