Capítulo 5: Capítulo 5
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Bem, uma tarde, pelas sete horas, resolvi sair à cata de aventura. Sentia que esta nossa parda e monstruosa Londres, com as suas miríades de habitantes, os seus sórdidos pecadores e os seus esplêndidos pecados, como você disse uma vez, devia ter alguma coisa de reserva para mim. Fantasiei mil coisas. Exultava só com a hipótese do perigo. Lembrava-me só das suas palavras naquela noite admirável em que pela primeira vez jantámos juntos, quando você me disse que procurar a beleza é o verdadeiro segredo da vida. Não sei o que é que eu esperava, mas saí e encaminhei-me para a parte oriental, perdendo-me dentro em pouco num labirinto de ruas lôbregas e praças negras e sem relva. Aí pelas oito horas e meia, passei por um absurdo teatrito, iluminado a bicos de gás e forrado de cartazes multicores. Um hediondo judeu, com o colete mais patusco que em toda a minha vida tenho visto, estava postado à entrada, fumando um reles cigarro. O cabelo caía-lhe em madeixas gordurosas e no peitilho da camisa suja refulgia-lhe um enorme diamante. «Quer um camarote, meu senhor?» perguntou ele ao ver-me, tirando o chapéu num gesto de espectaculoso servilismo. Havia nele qualquer coisa, Henry, que me divertia. Era um monstro.
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Páginas: 335
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