O Retrato de Dorian Gray - Cap. 5: Capítulo 5 Pág. 75 / 335

- Bem, achei-me sentado numa horrível frisa e pus-me a examinar a sala. Tinha uma decoração vulgaríssima e berrante, toda cheia' de Cupidos e cornucópias, como uma peça montada de casamento de terceira ordem. A galeria e a plateia estavam repletas, mas as duas filas de imundas cadeiras achavam-se totalmente vazias, e haveria, quando muito, uma pessoa no que chamam, suponho eu, balcão. Andavam pelo meio dos espectadores mulheres a vender laranjas e cerveja e quase toda a gente comia nozes desaforadamente.

- Devia ser tal qual assim, nos tempos gloriosos do teatro inglês.

- Tal qual, imagino; mas que tédio aquilo fazia! Começava a perguntar-me o que havia de fazer, quando dou com os olhos no programa. Que peça julga você que ia à cena, Henry?

- Talvez O Idiota ou o Mudo Inocente. Os nossos pais gostavam muito desse género de peças. Quanto mais vivo, mais intensamente sinto que tudo aquilo que era bom para os nossos pais já o não é para nós. Na arte, como na política, les grands-pêres ont toujours tort.

- Esta peça também para nós seria boa, Henry. Era Romeu e Julieta. Devo confessar que me vexava um tanto a ideia de ver Shakespeare representado naquela baiuca.





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