O Retrato de Dorian Gray - Cap. 5: Capítulo 5 Pág. 76 / 335

Todavia, sentia-me, não sei como, interessado. Resolvi, afinal, esperar pelo primeiro acto. Começou a tocar uma pavorosa orquestra, regida por um jovem hebreu, que estava sentado a um piano escalavrado. A música estava a instigar-me a fugir para a rua, quando, finalmente, subiu o pano e começou o espectáculo. O Romeu era um homem gordo, já de idade, de sobrancelhas riscadas a rolha e voz rouca de tragédia. Parecia um barril de cerveja. O Mercutio era quase tão mau como ele. Era um actor subalterno, que introduzia na peça piadas suas e' parecia estar nas melhores relações com a plateia. Eram ambos tão grotescos como o cenário, que parecia ter vindo duma barraca de feira. Mas a Julieta! Imagine, Henry, uma rapariga, que mal teria dezassete anos, com uma carinha de flor, cabecinha grega com tranças de cabelo castanho escuro, olhos que eram dois poços violetas de paixão, lábios que pareciam duas pétalas de rosa. Era a criatura mais encantadora que eu tinha visto na minha vida. Você disse-me um dia que a dor alheia o deixava insensível, mas que a beleza, a simples beleza, era capaz de lhe marejar os olhos de lágrimas. Afirmo-lhe, Henry, eu mal podia ver aquela rapariga, por causa das lágrimas que me nublavam os olhos. E a voz dela - eu nunca ouvira uma voz assim!




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