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O médico pareceu tomado por um ligeiro desfalecimento; cerrou os lábios e acenou afirmativamente com a cabeça.
- Eu sabia! - exclamou Utterson. - A intenção dele era matar-te. Escapaste por pouco.
- Tive muito mais do que merecia - replicou o médico, solenemente. - Recebi uma lição... Ai, meu Deus, Utterson, serviu-me de lição!
Ao dizer isto, cobriu o rosto com ambas as mãos. Quando se preparava para sair, o advogado parou e trocou umas palavras com Poole.
- A propósito - disse -, hoje foi entregue uma carta por mão; como era o aspecto do mensageiro?
Mas Poole afirmou peremptoriamente que nada chegara que não tivesse sido por via postal.
- E, mesmo assim, eram apenas circulares - acrescentou. Esta notícia renovou os receios do visitante. Era óbvio que a carta chegara pela porta do laboratório; possivelmente, até terá sido redigida no gabinete; e, se assim fosse, a situação deveria ser ajuizada diferentemente e tratada com maior cautela. Os ardinas gritavam alto, ao longo dos passeios:
- Edição especial! O assassínio chocante de um deputado!
Era esta a oração fúnebre de um amigo e cliente; e o advogado não conseguia evitar uma certa apreensão, receoso de que o bom nome de um outro fosse tragado na voragem do escândalo. A decisão que tinha de tomar era, no mínimo, delicada; e, embora fosse uma pessoa habitualmente autoconfiante, começou a sentir necessidade de um conselho. Não teria de o obter directamente; mas talvez pudesse pescá-lo.