O Estranho Caso de Dr. Jekyll e Mr. Hyde - Cap. 5: Capítulo 5 Pág. 37 / 102

Pouco depois, sentou-se num dos lados da sua própria lareira, com o Sr. Guest, o seu secretário principal, no lado oposto; de permeio, a uma distância bem calculada do lume, repousava uma garrafa de um vinho particularmente velho que permanecera muito tempo na escuridão das suas caves. O nevoeiro pairava como uma asa sobre a cidade submersa, onde os candeeiros brilhavam como rubis; e, por entre a espessa e sufocante neblina que se instalava, a procissão da vida citadina' continuava a fluir pelas artérias com o som de um vento poderoso. A sala, porém, resplandecia com o vivo crepitar das chamas. No interior da garrafa, o vinho já perdera a acidez; o tempo aveludara-Ihe o tom imperial, enriquecendo-o como faz aos vitrais; e o fulgor das tardes quentes de Outono nos vinhedos das encostas estava pronto para ser libertado e dispersar os nevoeiros de Londres. Insensivelmente, o advogado enternecia-se. Não havia homem que tivesse para ele menos segredos do que o Sr. Guest; e nem sempre Utterson tinha a certeza de que guardava tantos quantos desejava. Por diversas vezes, Guest prestara os seus serviços no domicílio do médico; conhecia Poole e era pouco provável que não tivesse ouvido falar da familiaridade que o Sr. Hyde mantinha com a casa; daí poderia tirar algumas conclusões: então, não deveria também ver uma carta que pudesse esclarecer aquele mistério? De resto, sendo Guest um grande estudante e crítico de caligrafia, não consideraria o gesto natural e atencioso?





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