O Estranho Caso de Dr. Jekyll e Mr. Hyde - Cap. 8: Capítulo 8 Pág. 51 / 102

- Dobra essa língua! - repreendeu Poole, com uma ferocidade no tom de voz que testemunhava o seu próprio nervosismo; e, na verdade, quando a rapariga elevara tão repentinamente o tom dos seus lamentos, todos haviam começado a virar-se para a porta interior, com um terror expectante estampado nos rostos.

- E agora - prosseguiu o mordomo, dirigindo-se ao ajudante de cozinha - alcança-me uma candeia, para resolvermos este assunto de imediato.

Em seguida, pediu ao Sr. Utterson que o acompanhasse e o seguisse até ao quintal das traseiras.

- Agora, Sr. Utterson - disse -, venha o mais silenciosamente que puder. Quero que ouça, sem que seja ouvido. E note bem, senhor: se, por alguma eventualidade, ele o convidar a entrar, não o faça.

Os nervos do Sr. Utterson, perante tão inesperada advertência, estremeceram de tal forma que quase o desequilibraram; mas recuperou a coragem e seguiu o mordomo até ao laboratório, percorrendo o anfiteatro operatório, todo ele juncado de caixotes e garrafas, até à base das escadas. Aqui chegados, Poole fez sinal ao advogado para que se postasse num dos lados e escutasse; enquanto ele próprio, pousando a candeia e fazendo um enorme e óbvio esforço de apelo à determinação, subiu as escadas e bateu com um toque incerto no reposteiro vermelho da porta do gabinete.

- O Sr. Utterson pede para o receber, senhor - anunciou e, ao mesmo tempo, mais uma vez, fez um sinal enérgico ao advogado para que escutasse.

- Diga-lhe que não posso receber ninguém - respondeu, num tom de queixume, uma voz vinda do interior.





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