Capítulo 10: Capítulo 10
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Apesar desta minha profunda duplicidade, não fui, de modo algum, um hipócrita; ambas as faces da minha natureza eram absolutamente sinceras; não deixava de ser eu próprio quando punha de lado os constrangimentos e mergulhava na ignomínia, nem quando labutava à luz do dia na evolução do conhecimento ou no alívio da dor e do sofrimento. E aconteceu que o rumo dos meus estudos científicos, que conduziam inteiramente às coisas místicas e transcendentes, reagiu e projectou uma luz intensa sobre esta consciência do perene conflito entre as diversas partes do meu corpo. A cada dia que passava, e de ambos os lados da minha inteligência, o moral e o intelectual, fui-me assim aproximando dessa verdade, cuja descoberta parcial me condenou a uma ruína tão horrível: a de que o homem não é verdadeiramente uno, mas duplo. Digo duplo, porque o estado do meu próprio conhecimento não me permite ir mais além. Outros se seguirão, outros me ultrapassarão nas mesmas direcções; e arrisco o palpite de que o homem será, um dia, conhecido como uma mera comunidade de habitantes multifacetados, incongruentes e independentes. Pela minha parte, dada a natureza da minha vida, avancei infalivelmente numa única direcção. Foi no lado moral, e na minha própria pessoa, que aprendi a reconhecer a perfeita e primitiva dualidade do homem; verifiquei que, das duas naturezas em disputa no campo de batalha da minha consciência, mesmo que me pudessem definir apropriadamente como sendo qualquer delas.
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