O Estranho Caso de Dr. Jekyll e Mr. Hyde - Cap. 10: Capítulo 10 Pág. 96 / 102

E como poderia eu, um visitante desconhecido e desagradável, convencer o famoso médico a arrombar o gabinete do seu colega Dr. Jekyll? Foi então que me lembrei que, da minha personagem original, restava uma parte: era capaz de escrever com a minha própria caligrafia; e, assim que concebi essa estimulante centelha, o caminho que deveria seguir foi iluminado de uma ponta à outra.

Ajeitei o fato o melhor que pude e, apanhando um coche que passava naquele momento, dirigi-me a um hotel em Portland Street, cujo nome tinha a sorte de me lembrar. Dada a minha aparência (que era deveras bastante cómica, apesar do trágico destino que a indumentária encobria), o condutor não foi capaz de disfarçar o seu gáudio. Rangi-lhe os dentes com uma fúria tão diabólica, que o sorriso se apagou do seu rosto - felizmente para ele e não menos para mim, pois, noutras circunstâncias, tê-lo-ia arrancado do seu poleiro. Já no interior da estalagem, olhei à minha volta com um semblante tão sinistro que até os criados tremeram; nem um olhar trocaram na minha presença; mas acataram as minhas ordens com cortesia, conduziram-me a um quarto privado e forneceram-me o necessário para escrever. Hyde em perigo de vida era urna criatura nova para mim: sacudido por uma fúria desordenada, exaltado até ao ponto de cometer assassínio, entregando-se à volúpia de infligir a dor. No entanto, a criatura era astuta; dominava a sua fúria com um enorme esforço da vontade; escreveu as suas duas cartas importantes, uma a Lanyon e a outra a Poole; e para obter uma prova real de que tinham sido expedidas, enviou-as com a indicação de que fossem registadas.





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