Ajeitei o fato o melhor que pude e, apanhando um coche que passava naquele momento, dirigi-me a um hotel em Portland Street, cujo nome tinha a sorte de me lembrar. Dada a minha aparência (que era deveras bastante cómica, apesar do trágico destino que a indumentária encobria), o condutor não foi capaz de disfarçar o seu gáudio. Rangi-lhe os dentes com uma fúria tão diabólica, que o sorriso se apagou do seu rosto - felizmente para ele e não menos para mim, pois, noutras circunstâncias, tê-lo-ia arrancado do seu poleiro. Já no interior da estalagem, olhei à minha volta com um semblante tão sinistro que até os criados tremeram; nem um olhar trocaram na minha presença; mas acataram as minhas ordens com cortesia, conduziram-me a um quarto privado e forneceram-me o necessário para escrever. Hyde em perigo de vida era urna criatura nova para mim: sacudido por uma fúria desordenada, exaltado até ao ponto de cometer assassínio, entregando-se à volúpia de infligir a dor. No entanto, a criatura era astuta; dominava a sua fúria com um enorme esforço da vontade; escreveu as suas duas cartas importantes, uma a Lanyon e a outra a Poole; e para obter uma prova real de que tinham sido expedidas, enviou-as com a indicação de que fossem registadas.