Um carro fechado esperava-me, com efeito; o maciço cocheiro enrolado numa capa preta. Assim que entrei, chicoteou o cavalo e rodámos para a estação de Vitória. Assim que me apeei, voltou rapidamente para trás e disparou sem sequer olhar na minha direcção.
Até ali tudo tinha corrido admiravelmente. A minha bagagem estava à minha espera e não tive dificuldade em encontrar a carruagem que Holmes me indicara, visto ser a única da composição que tinha o letreiro «Reservado». Sentia-me, contudo, ansioso com a ausência de Holmes. Pelo relógio da estação, faltavam apenas sete minutos para partirmos e em vão eu procurava a figura esguia do meu amigo por entre os grupos dos que partiam e dos que se despediam. Nem sinal dele. Passei alguns minutos a observar um venerável sacerdote italiano que se esforçava por explicar, ao moço de fretes, no seu inglês estropiado, que a sua bagagem devia ser enviada para Paris. Então, tendo lançado outro olhar em redor, voltei para a carruagem, onde verifiquei que o moço de fretes, a despeito da nossa reserva, me havia dado o decrépito amigo italiano como companheiro de viagem. Foi-me inútil tentar fazer-lhe ver que a sua presença era uma intrusão, já que o meu italiano era ainda pior do que o seu inglês. Não havendo esperanças, encolhi resignado os ombros e continuei a esperar, com ansiedade, o meu amigo. Um arrepio de pavor perpassou por mim ao ocorrer-me que a sua ausência podia significar que fora atacado durante a noite. Já as portas tinham sido fechadas e o apito soado quando...
- Meu caro Watson, - disse uma voz - você não condescende nem mesmo em dar-me os bons-dias?
Voltei-me, sem conseguir dominar o espanto. O idoso eclesiástico encarou-me e, num instante, as rugas do seu rosto se alisaram, o nariz se afastou do queixo, o lábio inferior abandonou a sua posição pendente, a boca deixou o seu lento mascar, os olhos estúpidos adquiriram um brilho que me era familiar e a sua figura encolhida endireitou-se.