O Problema Final É com o coração pesado que pego na pena para escrever estas últimas e poucas palavras com que registarei os dotes singulares que sempre distinguiram o meu amigo Sherlock Holmes. Num estilo incoerente e, sinto-o bem, profundamente inadequado, esforcei-me por fazer o relato das minhas estranhas experiências na sua companhia, desde o acaso que primeiro nos reuniu na época de Um Estudo em Vermelho até à altura da sua interferência no caso d' O Tratado Naval interferência que teve o mérito de evitar uma grave questão internacional. Era minha intenção ter parado aqui e nada mais dizer a respeito desse acontecimento que criou um vazio na minha vida, vazio esse que o lapso de dois anos pouco fez para preencher. Sou compelido a fazê-lo, contudo, devido a uma publicação do coronel James Moriarty em que defende a memória do seu irmão.
Não tive outra alternativa senão apresentar perante o público os factos exactamente como ocorreram. Só eu conheço a verdade precisa da questão e sinto-me feliz por ter chegado o momento em que se não serve uma causa boa com a sua omissão. Até onde me é dado saber, houve apenas três descrições dos factos dadas à estampa: a do Journal de Geneve, de 6 de Maio de 1891, o comunicado da Reuters, de 7 de Maio, nos jornais ingleses e, por último, a recente publicação a que aludi. Destas, a primeira e a segunda são extremamente lacónicas e a última é, como tentarei demonstrar agora, uma perfeita perversão dos factos. Cabe-me, pois, revelar, pela primeira vez, o que realmente se passou entre o professor Moriarty e Mr. Sherlock Holmes.
O leitor deve lembrar-se de que logo após o meu casamento e a minha consequente estreia na clínica particular, as íntimas relações que havia entre Holmes e eu se modificaram muito.