A Tragédia do Glória Scott - Tenho aqui uns papéis - disse o meu amigo Sherlock Holmes quando nos sentámos numa noite de Inverno ao lado da lareira. - Creio, realmente, que vale a pena examiná-los. São os documentos do extraordinário caso do Glória Scott. E aqui está a mensagem que encheu de terror o juiz de paz quando a leu.
Tirou da gaveta um rolo, e, desatando uma fita que o envolvia, passou-me uma breve nota rabiscada numa meia folha de papel de um cinzento de ardósia:
«A provisão de caça para Londres está muito bem terminada», rezava a nota. «O guarda-chefe Hudson, segundo supomos, disse que está tudo arranjado; que fuja a mosca para a faisoa se salvar enquanto a sua prole tiver vida.»
Quando deixei de olhar para essa mensagem enigmática, vi Holmes rindo por entre dentes da expressão do meu rosto.
- Você parece um tanto confuso - disse.
- Não posso compreender como semelhante mensagem pôde inspirar horror. Parece-me mais grotesca do que outra coisa.
- É muito provável. Mas a verdade é que o seu leitor, que era homem robusto e atilado, ficou totalmente dominado por ela como se fosse uma coronhada de pistola.
- Você despertou a minha curiosidade - disse. - Mas por que me disse só agora que houve razões particulares devido às quais devo estudar este caso?
- Porque foi o primeiro em que me empenhei como nunca.
Várias vezes me esforcei por descobrir por que motivo o meu companheiro se tinha dedicado às pesquisas criminais, mas nunca o apanhara num humor comunicativo. Inclinou-se então para a frente na sua cadeira de braços e espalhou os documentos sobre os joelhos. Em seguida acendeu o cachimbo e começou a soltar fumaças e a revirá-los.