- Onde está Mrs. Delamere? Isto não lhe fará nenhum mal, espero?
- O médium está feliz num outro plano da existência.
Tomou o meu lugar, tal como eu tomei o dela. - Quem é o senhor?
- Pouco importa, para os presentes. Sou alguém que viveu como os senhores vivem agora, e que morreu como morrerão um dia.
Tínhamos ouvido ranger a roda de um fiacre que se detivera em frente da porta vizinha. Lá fora discutiam o preço da corrida e, quando partiu, o cocheiro resmungou uma grosseria. A nuvem amarelo-esverdeada continuava a pairar por cima da mesa, mortiça em toda a sua superfície, excepto na direcção do médium onde brilhava com uma fraca luminosidade. Era como se se amontoasse à sua frente. O meu coração gelou com o frio e o medo. Parecia-me que nos aproximávamos com ligeireza e desenvoltura do sacramento mais real e mais augusto: a comunhão com os mortos, de que tinham falado os Pais da Igreja.
- Não acha que estamos a ir longe de mais? Não deveríamos interromper esta sessão? - exclamei.
Mas os outros tinham uma enorme vontade de ver o fim. Os meus escrúpulos fizeram-nos rir.
- Todos os poderes são criados para que nos sirvamos deles - respondeu-me Harvey Deacon. - Se podemos fazê-lo, devemos fazê-lo. Todos os novos pontos de partida do conhecimento foram declarados ilegais nos seus começos. É justo e razoável que procuremos informar-nos sobre a natureza da morte.
- É justo e razoável - disse a voz.
- Claro! Que podia pedir mais? - gritou Moir muito enervado. - Façamos um teste. Importa-se de dar-nos uma prova de que se encontra realmente aqui?
- Que teste pretende?
- Vejamos... Tenho alguns trocos na minha algibeira. Pode dizer-me quanto é?
- Nós voltamos na esperança de ensinar e de elevar, mas não para resolver enigmas pueris.